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Você que é tímido já deve ter ouvido diversas vezes alguém falando: ?para de ser tímido, deixa de frescura?. Falam como se a timidez fosse algo possível de se controlar, uma mera vontade que pode desaparecer de repente. Não é. Este artigo tem o objetivo de desmistificar esse pensamento de que a timidez é frescura e mostrar o imenso sofrimento que ela pode causar nas pessoas.


A primeira coisa que precisamos esclarecer é que timidez não é doença. Diferente do que muitos pensam, ela é um comportamento. É bom deixar isso claro para que não se imagine que uma pessoa que tem dificuldades em interagir socialmente é um doente. ?Tá bom, Eliana, mas se não é doença, então é frescura, né??


Também não é frescura. O tímido não escolhe ser tímido. Ele já nasce com essas características, que podem ser potencializadas ou minimizadas de acordo com diversos fatores. O ambiente familiar, os traumas vivenciados, os estímulos, a sociedade, a escola, os coleguinhas da infância. Tudo contribui de alguma forma para desenvolver ou não a timidez.



Timidez começa na infância

 

Os pais têm grande influência sobre a timidez, por exemplo. Geralmente, quem é mais superprotetor costuma criar filhos mais retraídos, calados e envergonhados. Se a mãe sempre faz tudo para a menina, é natural que ela se acomode e tenha temor de se virar sozinha. Estou falando de coisas bem simples como comprar pão na padaria ou pedir o que deseja comer para o garçom em um restaurante. Desde pequena, a criança deve ser estimulada a interagir socialmente.


De igual forma, se um pai é excessivamente severo com a criança, há uma tendência maior de ela se fechar. Afinal, nada do que ela falar ou fizer será bom o suficiente para aquele pai. Por isso, a criança evitará de comentar seus feitos com medo de ser repreendida ou de frustrar a expectativa dos familiares.


A timidez causa sofrimento nas crianças. Não é besteira!



Na escola é onde a timidez floresce com maior intensidade. É nítida a diferença entre os alunos. Há os mais bagunceiros e que gostam de conversar e os mais quietinhos, que costumam se comportar e prestar mais atenção. Os tímidos se enquadram na segunda categoria. Por se dispersar menos, costumam ter notas melhores.


O maior problema é quando a professora inventa uma prova oral: aí começa o drama do tímido. Apresentar um seminário ou produzir um trabalho em grupo vira um imenso martírio para os acanhados. O medo de errar, de falar alguma bobagem e ter que falar em público são fatores que, juntos, causam pânico na pessoa tímida. São vários os questionamentos que vêm à mente do aluno tímido:


  1. O que os colegas vão pensar de mim?
  2. A professora vai me achar burro.
  3. Se eu errar, todos vão rir de mim.
  4. Posso dar adeus àquele brinquedo que tanto queria.
  5. O passeio no shopping vai ser cancelado.
  6. Vou acabar falando uma besteira e estragando tudo.
  7. Não estou à altura dos outros integrantes do grupo.
  8. O que meus pais vão fazer se eu tirar uma nota ruim?
  9. Se tirar uma nota ruim, vou acabar sendo reprovada.



Pode parecer exagero, mas a mente do tímido pode pensar nisso tudo e muito mais. Isso porque a pessoa tímida é extremamente exigente consigo mesma. Ela pensa demais antes de agir e isso causa tanta angústia que os seus maiores temores podem acabar, de fato, se tornando realidade. É comum que o melhor aluno da sala, devido a timidez, tenha um desempenho ruim na hora de expor um trabalho na frente de todos.

Os professores têm um papel importante na superação da timidez.


Cabe aos professores tentarem contornar essa situação de pânico incentivando que todos se manifestem sempre que possível. Aí entre um ?quê? de psicologia nesta linda profissão. O professor precisa trabalhar em favor de cada um dos seus alunos, mapeando seus pontos fortes e fracos e trabalhando-os de forma individualizada. Ocorre que nem sempre isso é possível, já que uma sala pode ter mais de 40 alunos.



O sofrimento causado pela timidez na adolescência

 

A tendência é que uma criança tímida transforme-se em um adolescente tímido. É nesta fase onde o comportamento tímido ganha contornos e potencializa o sofrimento. Isso porque os adolescentes são chamados a mais interações sociais do que as crianças. Os laços de amizade tornam-se mais fortes ? algumas delas nós podemos levar para a vida toda -, as paqueras começam a surgir, a escola costuma ser mais exigente, a escolha da profissão costuma confundir a cabeça e a pressão para o vestibular cresce.


São novos sentimentos, novas sensações e, principalmente, novas responsabilidades. Se a criança tímida já exige muito de si, imagine um adolescente. Para piorar ainda temos os temidos hormônios, que começam a ebulir em uma frenética mistura de emoções. Tudo no adolescente é exagerado: a felicidade, a tristeza, a melancolia, o êxtase, a paixão, a ansiedade.



Timidez no adolescente não é frescura e nem besteira.



Há ainda a mudança corporal do adolescente tímido que causa sofrimento. As meninas começam o ciclo menstrual e o surgimento de pelos. Os seios crescem e as curvas começam ganhar forma em um corpo que antes era infantil. Nos meninos, o crescimento pode se dar de forma desregular, deixando-os grandes e desengonçados. A voz começa a engrossar e fica estranha no momento de transição, variando entre tons graves e agudos que geralmente são alvo de muita chacota. Barba e pelos começam a se desenvolver.


E, tanto nos meninos quanto nas meninas, começam as mudanças nos órgãos sexuais, o que causa bastante insegurança. Nestes aspectos, o tímido também sofre bastante, já que, dependendo da criação, pode não se sentir confortável para falar com os pais sobre este tipo de assunto.


Além de todos esses desafios comuns, o tímido ainda precisa lidar com a sua introspecção. Eu, que já fui tímida, sei quão ruim é querer se expressar e não conseguir. Quem nunca se sentiu angustiada por não conseguir declarar seu amor por aquele crush? Qual tímido nunca se sentiu péssimo por dominar o assunto, mas não conseguir expor o raciocínio? Parece que algo vai explodir dentro de nós. E o adolescente é posto à prova o tempo inteiro.


É na adolescência que a pressão familiar também cresce sobre o tímido. Como já dito anteriormente, a fase de transição para a vida adulta enseja uma grande intensidade sobre os estudos com vistas a futura vida profissional. Por isso, fica o meu recadinho para os pais: incentive o seu filho, mas não cobre demais deles. O excesso de severidade pode agravar o comportamento de timidez e ter o efeito contrário ao esperado. Lembre-se de que nem todo mundo funciona bem na base da pressão.


Alguns acabam optando pelo caminho mais perigoso para superar a timidez: é a chamada extroversão líquida. Trata-se da busca por remédios não receitados, drogas ou álcool para reduzir a tensão nas situações sociais e amenizar a inibição. Assim, o tímido fica mais solto e consegue ser ele mesmo, sem as amarras sociais que o prendem no cotidiano.


A prática, no entanto, pode levar a doenças como o alcoolismo, a dependência e o vício em drogas, que, no final das contas, podem piorar a situação de quem já é tímido.



Timidez é real: não é bobeira, não é frescura

 

A timidez é algo real e difícil de lidar, não tem nada de frescura, de bobeira. Ela tem suas complexidades e traz sofrimento para quem vivencia. Você pode conseguir se livrar dela totalmente ou aprender a dominá-la. Conviver bem com ela é possível.